Em uma parceria inovadora entre a Faculdade de Odontologia da Universidade de los Andes (UANDES) e a Universidade de La Frontera (Chile), pesquisadores liderados pelo Dr. Gabriel Nima e pela Dra. Karina Godoy desenvolveram um protocolo revolucionário para reparar restaurações dentais definitivas obtidas por impressão 3D sem a necessidade de substituição total do componente.
Essa abordagem promete transformar o tratamento de pequenas fraturas e desgastes em coroas, incrustações e onlays 3D, reduzindo custos, tempo de atendimento e preservando a estrutura dental original.

1. Contexto e Importância da Impressão 3D na Odontologia
A odontologia restauradora tem passado por uma notável transformação digital, marcada pela adoção de tecnologias que ampliam a precisão dos diagnósticos e a eficiência dos tratamentos. Entre essas inovações, a impressão 3D vem ganhando destaque por permitir a confecção de guias cirúrgicos, modelos de estudo e, mais recentemente, restaurações definitivas em resinas compostas e cerâmicas, com desperdício de material significativamente reduzido.
1.1 Evolução da Tecnologia na Odontologia Restauradora
A odontologia digital tem revolucionado os tratamentos restauradores, com destaque para:
- Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (CBCT): imagens 3D de alta precisão para planejamento de implantes e diagnósticos avançados.(AAS Mariath, 2023)
- Sistemas CAD/CAM: usinagem subtrativa para coroas e próteses personalizadas.
- Impressão 3D (Additive Manufacturing – AM): fabricação de restaurações definitivas em resinas compostas e cerâmicas, com menor desperdício de material.(SC Ana & SOC Jéssica, 2024)
1.2 Vantagens e Desafios das Restaurações 3D
Vantagens:
✅ Precisão anatômica (ajuste marginal superior)
✅ Rapidez (fabricação em horas vs. dias em métodos tradicionais)
✅ Sustentabilidade (menor desperdício de material)
Desafios:
⚠ Fragilidade mecânica (risco de fraturas em áreas de alta carga oclusal)
⚠ Dificuldade de adesão em reparos (bolsões de ar e falhas na interface)
⚠ Necessidade de biocompatibilidade para uso definitivo.(VR Lima & R Zimmer, 2025)
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2. O Problema das Fraturas em Restaurações 3D
Apesar do avanço tecnológico, 15–25% das restaurações 3D apresentam desgaste ou pequenas fraturas em até dois anos, sobretudo em regiões de alta carga oclusal (molares).
Em geral, o procedimento padrão consiste em remover a peça danificada, escanear novamente, imprimir e cimentar um novo componente – um ciclo que demanda múltiplas consultas, custo elevado e perda de estrutura dental saudável.
2.1 Incidência e Impacto Clínico
A frequência de fraturas afeta diretamente a experiência do paciente e a lucratividade do consultório, pois cada substituição completa envolve horas de trabalho em laboratório, materiais de alto custo e tempo adicional de cadeira.
Ademais, o desgaste mecânico repetido compromete o dente remanescente, tornando essencial alternativas menos invasivas.
Estudos indicam que 15–25% das restaurações 3D sofrem fraturas ou desgastes após 1–2 anos, especialmente em molares.(LT Mendes, 2020)
O procedimento convencional envolve:
- Remoção da restauração danificada
- Nova digitalização e impressão
- Cimentação de uma nova peça
Problemas:
- Tempo prolongado (múltiplas consultas)
- Custos elevados (laboratório + material)
- Perda de estrutura dental saudável a cada substituição
2.2 Por Que Reparar em Vez de Substituir?

Optar pelo reparo em vez da troca total preserva até 80% da estrutura original, reduz em até 60% o custo do procedimento e diminui pela metade o tempo de tratamento, resultando em maior satisfação do paciente e menor impacto ambiental.
- Preservação da estrutura dental
- Economia de 50% no tempo e custos
- Maior satisfação do paciente (menos intervenções)(EF da Silva et al., 2013)
3. Metodologia da Pesquisa
O estudo teve como foco principal identificar tratamentos de superfície que maximizem a adesão do material de reparo às restaurações 3D, além de avaliar a resistência mecânica e a biocompatibilidade do conjunto reparado.
3.1 Objetivos
- Identificar tratamentos de superfície para melhor adesão.
- Testar resistência mecânica em condições simuladas.
- Criar um protocolo clínico reprodutível.
3.2 Tratamentos de Superfície Testados
Método | Efeito Esperado |
---|---|
Jateamento com Al₂O₃ (50 μm) | Rugosidade superficial |
Ácido Fosfórico 37% | Microrretenções químicas |
Silano | Promotor de adesão |
Plasma Frio | Limpeza e ativação sem abrasão |
3.3 Resultados Preliminares
✅ Jateamento + Silano → 28 MPa de adesão (acima do mínimo de 20 MPa)
✅ Falhas coesivas (não na interface, indicando boa união)
✅ Biocompatibilidade confirmada (viabilidade celular >95%)(A Perottoni et al., 2020)
4. Protocolo Clínico Proposto
Com base nos resultados experimentais, o protocolo clínico inclui isolamento absoluto com dique de borracha, jateamento a 2,5 bar por 10 s, aplicação de silano por 60 s, uso de adesivo sem condicionamento ácido adicional e preenchimento com resina fluida fotopolimerizável, seguido de polimento final. O procedimento completo pode ser realizado em 20–30 min, contra dias necessários para uma troca total.
- Isolamento absoluto (dique de borracha)
- Jateamento com Al₂O₃ (50 μm, 2,5 bar, 10s)
- Aplicação de silano (60s)
- Adesivo dentinário sem “etch”
- Preenchimento com resina fluida fotopolimerizável
- Polimento final
Tempo estimado: 20–30 minutos (vs. horas/dias na substituição total)
5. Benefícios para Pacientes e Profissionais
Para Pacientes:
✔ Menos consultas (procedimento em única sessão)
✔ Economia financeira (até 60% mais barato)
✔ Preservação dental (menor desgaste do dente)
Para Dentistas:
✔ Otimização de tempo (mais procedimentos/dia)
✔ Diferencial competitivo (atendimento digital avançado)
✔ Sustentabilidade (menos descarte de materiais)(A Bacchi et al., 2010)
6. Conclusão e Perspectivas Futuras
A pesquisa liderada pela UANDES e Universidade de La Frontera demonstra que reparar restaurações 3D é viável, durável e economicamente vantajoso. O protocolo com jateamento + silano mostrou a melhor eficácia, com adesão superior a 28 MPa e resistência ao envelhecimento acelerado.
Próximos passos:
🔬 Ensaio clínico em 150 pacientes (2025–2028)
🤖 Integração com IA para diagnóstico automatizado de defeitos
🧪 Desenvolvimento de nanomateriais autoadesivos
Com essa inovação, a odontologia digital avança para um futuro onde reparos rápidos, conservadores e acessíveis se tornam padrão na prática clínica.
FAQ (Perguntas Frequentes)
1. Em que casos este protocolo de reparo é indicado?
Recomenda-se para fraturas pequenas (< 2 mm) e desgastes superficiais em coroas e incrustações definitivas 3D.
2. Qual a durabilidade esperada após o reparo?
Os testes laboratoriais indicam manutenção de 90% da resistência inicial após envelhecimento simulado equivalente a 2 anos intraorais.
3. Pode-se aplicar o mesmo protocolo em restaurações provisórias?
Sim, mas provisórios demandam menor exigência mecânica; o protocolo pode ser simplificado (somente jateamento + adesivo).
4. Há necessidade de equipamentos especiais?
Além de jateador de abrasivo e fonte de luz adequada, o protocolo utiliza materiais disponíveis em qualquer consultório digital.
5. Este procedimento está coberto por convênios odontológicos?
Depende da tabela; recomenda-se inclusão como “manutenção de restauração definitiva” ou “reparo de coroa”.
Referências Adicionais:
- Reparos em restaurações de resina composta: revisão de literatura (Bacchi et al., 2010)
- Avaliação de diferentes métodos de reparo (Lima & Zimmer, 2025)