O que é o Enxerto Gengival Livre (EGL)?
O enxerto gengival livre (EGL) é uma técnica cirúrgica consagrada da periodontia e implantodontia que consiste na transferência de um fragmento de tecido gengival, geralmente retirado do palato (céu da boca), para uma região onde a gengiva encontra-se ausente, fina, insuficiente ou retraída.
O objetivo principal é corrigir defeitos gengivais, ampliar a faixa de gengiva queratinizada, recobrir recessões, melhorar a proteção dos dentes e implantes, e proporcionar maior conforto funcional e estético ao paciente.
Apesar dos avanços nos biomateriais e substitutos gengivais, o enxerto autógeno, ou seja, aquele obtido do próprio paciente, permanece o padrão ouro na reconstrução do tecido mole ao redor de dentes e implantes.
Por que Fazer um Enxerto Gengival Livre? Indicações Fundamentais
O EGL é indicado em situações como:
- Presença de retração gengival significativa, com exposição da raiz dental ou do implante;
- Necessidade de ganho de tecidos queratinizados ao redor de dentes ou implantes;
- Melhoria de casos de alterações mucogengivais, como frenilos ou bridas próximas à margem gengival;
- Preparação prévia para próteses ou implantes dentários, para garantir selamento e estabilidade a longo prazo;
- Selamento alveolar após extração dentária, a fim de preservar volume ósseo e facilitar a futura reabilitação implantossuportada.
Além disso, pacientes que relatam sensibilidade devido à exposição radicular, ou preocupação estética com retrações aparentes, podem ser elegíveis para o procedimento.

Como Funciona o Procedimento de Enxerto Gengival Livre?
A técnica envolve basicamente três etapas principais:
- Preparo do leito receptor: O local que receberá o enxerto é preparado com um retalho parcial, deixando um leito sanguíneo vascularizado que facilitará a integração do enxerto;
- Remoção do enxerto do palato: O tecido, em geral epitelizado (com superfície queratinizada), é cuidadosamente recortado do palato, com dimensões ajustadas à necessidade da área receptora;
- Estabilização e sutura: O enxerto é posicionado sobre o leito, suturado de maneira segura, promovendo contato íntimo com o tecido subjacente para rápida vascularização e integração(Revista ImplantNews).
O pós-operatório inclui orientação sobre higiene bucal especializada, dieta pastosa, uso de antissépticos bucais e, eventualmente, analgésicos.
Benefícios do Enxerto Gengival Livre
O enxerto gengival livre proporciona uma série de benefícios relevantes para a saúde bucal:
- Aumento da faixa de gengiva queratinizada: Essencial para manter a proteção contra traumas, invasão bacteriana e facilitar a higiene oral;
- Recobrimento radicular: Reduz sensibilidade dentinária e melhora a estética, sobretudo em dentes anteriores;
- Estabilidade peri-implantar: Minimiza riscos de peri-implantite e perda óssea ao redor de implantes;
- Função melhorada: Facilita a adaptação de próteses, contribui para estabilidade muscular e correta inserção de frenilos;
- Efeito barreira: Impede avanço da retração gengival e da perda óssea marginal.
Estudos mostram que, feito corretamente, o enxerto gengival livre apresenta resultados previsíveis e duradouros(JCIS).

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Selamento Alveolar Pós-Exodontia: A Importância do EGL
Após a exodontia (extração dentária), ocorre remodelação fisiológica do alvéolo (suporte ósseo que abrigava a raiz do dente), frequentemente levando à reabsorção óssea horizontal e vertical. Isso representa um obstáculo para a posterior instalação de implantes, principalmente em áreas estéticas.
Utilizar o EGL como tampa ou selamento biológico para o alvéolo pós-extração pode minimizar danos, criando um microambiente mais favorável à regeneração tecidual e óssea. O tecido autógeno atua como barreira natural, preservando o volume e incentivando cicatrização correta.
Essa abordagem ganha destaque em implantodontia moderna, elevando o nível do cuidado preventivo em reabilitações complexas.
Tipos de Enxertos de Tecido Mole: Comparação e Inovações
Enxerto Gengival Livre (Autógeno Epitelizado)
- Clássico, retirado do palato;
- Apresenta superfície epitelizada, ideal para aumento da faixa de gengiva queratinizada;
- Relativamente simples de executar, com alto índice de sucesso;
- Pode causar desconforto momentâneo na área doadora.
Enxerto de Tecido Conjuntivo Subepitelial
- Coletado da mesma região, porém apenas a camada conjuntiva interna;
- Mais indicado para recobrimento radicular e maior integração estética;
- Menor desconforto na área doadora.
Matrizes de Colágeno Xenogênico
- Alternativas modernas produzidas a partir de colágeno animal;
- Evitam cirurgia na área doadora, mas podem apresentar resultados levemente inferiores quanto ao ganho de tecido queratinizado.
Novas pesquisas exploram o uso de fatores de crescimento, membranas sintéticas e células-tronco mesenquimais acopladas à matriz de colágeno, porém o enxerto gengival autógeno livre ainda lidera em previsibilidade e longevidade dos resultados.
Morbidade da Área Doadora: Como Minimizar o Desconforto?
A principal queixa dos pacientes submetidos ao EGL está no desconforto pós-operatório da área doadora. Como a ferida cicatriza por segunda intenção (fica aberta), é comum a ocorrência de dor, edema, risco de hemorragia e, raramente, complicações como infecção ou disfunção sensorial palatal.
Entre as técnicas para controlar a dor, acelerar a cicatrização e proteger a ferida destacam-se:
- Suturas cuidadosas para aproximar as bordas;
- Uso de curativos protetores sintéticos (como polímeros biodegradáveis tipo Ora-Aid);
- Aplicação de agentes hemostáticos, matriz de colágeno ou gelatina na ferida;
- Prescrição de analgésicos, anti-inflamatórios e antissépticos bucais tópicos;
- Orientação dietética e restrição da mastigação na área doadora.
O Ora-Aid, em particular, cria uma camada protetora, bloqueando irritantes e acelerando o fechamento do palato, sendo uma inovação clínica relatada por diversos especialistas(VMCom).
Passo a Passo do Procedimento Clinicamente
1. Avaliação pré-operatória: Inclui exame clínico detalhado, registro fotográfico, análise de saúde gengival restante, exames radiográficos e planejamento individualizado.
2. Anestesia local: Essencial para garantir conforto ao paciente.
3. Preparo do leito receptor: Retalho dividido ou janela na gengiva, assegurando suprimento sanguíneo adequado.
4. Obtenção do enxerto no palato: Definição do tamanho, espessura (em média 1,0–1,5 mm) e remoção cuidadosa, respeitando estruturas nobres (artéria palatina).
5. Sutura do enxerto: Fixação precisa ao receptor, garantindo imobilidade e íntimo contato para incorporar-se sem deslocamento ou necrose.
6. Proteção da área doadora: Sutura, curativo, uso de materiais hemostáticos e instruções pós-operatórias detalhadas.
7. Acompanhamento pós-operatório: Remoção de pontos, verificação de integração, orientação de retorno gradativo à rotina.
Sucesso e Limitações do Enxerto Gengival Livre
Pontos Fortes
- Técnica reprodutível, com curva de aprendizado viável para dentistas especializados;
- Resultados previsíveis e duradouros;
- Forte evidência científica do benefício em casos de perda de gengiva queratinizada, recessões e terapia ao redor de implantes.
Limitações
- Desconforto transiente na área doadora;
- Não indicado para recobrimento de grandes áreas de múltiplos dentes em único procedimento;
- Resultados estéticos podem ser limitados em algumas áreas altas, exigindo complementação com enxertos de conjuntivo subepitelial em casos de alta demanda estética;
- Exige motivação e cooperação do paciente no pós-operatório.
Cuidados Pós-Operatórios: Dicas para Ótima Recuperação
O sucesso do EGL depende não só do ato cirúrgico, mas também das medidas de autocuidado no pós-operatório:
- Evite escovação ou trauma na área operada por pelo menos 7–10 dias;
- Prefira alimentação fria e pastosa durante 3–4 dias;
- Não utilize canudos, evite sucção ou movimento repetido da língua na área doadora;
- Higienize adequadamente as demais regiões, usando escova ultra-macia ou fio dental de forma suave;
- Utilize enxaguante bucal prescrito pelo dentista, normalmente à base de clorexidina;
- Retorne ao consultório para remoção de suturas e avaliação do enxerto;
- Informe o cirurgião em caso de sangramento intenso, dor desproporcional, febre ou sinais de infecção.

Enxerto Gengival Livre ao Redor de Implantes: Porque o Tecido Queratinizado é Essencial
Ao redor de implantes dentários, ter tecido queratinizado suficiente é fundamental para:
- Melhor controle da placa bacteriana;
- Redução de inflamação e sangramento;
- Diminuição do risco de mucosite e peri-implantite;
- Estabilidade peri-implantar a longo prazo.
Diversos estudos de longo prazo comprovam o melhor prognóstico de implantes em áreas devidamente recobertas com tecido queratinizado, justificando o uso do EGL de forma preventiva e corretiva.
O Futuro do Enxerto Gengival: Novas Terapias e Pesquisas
O desenvolvimento de matrizes de colágeno xenogênico, biopolímeros, colas biológicas e até enxertos com células-tronco mesenquimais são tendência e tema de pesquisas clínicas. Estes recursos buscam diminuir a morbidade, aumentar a aceitação do paciente e fornecer resultados estéticos superiores nas áreas mais críticas.
Porém, a padronização, previsibilidade e baixo índice de complicações do EGL mantêm-no no topo das indicações da cirurgia plástica periodontal, sendo a primeira escolha na maioria dos protocolos internacionais.
Considerações Finais
O enxerto gengival livre representa uma poderosa ferramenta terapêutica para cirurgiões-dentistas, sendo imprescindível no arsenal de tratamento das doenças periodontais, correção de defeitos gengivais, prevenção de complicações peri-implantares e melhorias estéticas.
A escolha da abordagem, dimensão do enxerto, técnica de sutura e proteção da área doadora são fatores determinantes de sucesso. O compromisso do paciente com o pós-operatório potencializa os benefícios e promove uma cicatrização eficiente, proporcionando resultados funcionais e visuais de excelência.
No cenário atual, apesar das alternativas sintéticas e biotecnológicas, o EGL mantém-se como sinônimo de longevidade, previsibilidade, segurança e custo-benefício, atendendo às demandas clínicas mais exigentes da periodontia moderna.
Referências
- Enxerto gengival livre no contexto atual da Perio-Implantodontia(Revista ImplantNews)
- Enxerto gengival livre (EGL) de mucosa palatina, como selamento de alvéolo pós exodontia(JCIS)
- Enxerto gengival livre – Wikipédia(Wikipédia)
- Cicatrização da área doadora de enxertos de tecidos moles(VMCom)
- Benefícios do enxerto gengival: antes e depois(Colgate)
- Enxerto Gengival | Risco, dor e Recuperação(Lygos Dental)
- Enxerto Gengival Livre Modificado, Uma Técnica Inovadora(Revista SPemd)
Este artigo é informativo e não substitui a avaliação e conduta de um cirurgião-dentista. Procure sempre um profissional qualificado ao considerar procedimentos cirúrgicos periodontais ou peri-implantares.
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